O Reclame Aqui se consolidou como uma das plataformas mais acessadas do Brasil quando o assunto é reputação empresarial. Mas por trás da promessa de empoderamento do consumidor, há um sistema que parece cada vez mais guiado por uma lógica algorítmica de ranqueamento, visibilidade e engajamento — nem sempre pautada pela justiça ou pelo equilíbrio. Isso coloca uma dúvida no ar: as marcas ainda estão no controle da própria reputação ou viraram reféns de um jogo que não definiram?
Empresas que se destacam no atendimento são, ironicamente, as que mais aparecem no site. O motivo? Justamente por responderem a tudo, com rapidez e cuidado, acabam gerando um volume elevado de interações indexadas no Google. Assim, os mecanismos de busca passam a associar aquele nome corporativo a um alto número de reclamações — ainda que todas tenham sido solucionadas. É um paradoxo cruel: o bom comportamento digital alimenta a má impressão orgânica.
Em paralelo, consumidores tornaram-se especialistas na dinâmica do site. Muitos já sabem que basta reclamar publicamente para subir no ranking de visibilidade da plataforma e, assim, garantir retorno rápido ou vantagens adicionais. Surge um efeito perverso: a empresa que se mostra mais ativa é também a mais vulnerável à pressão. O Reclame Aqui vira palco de negociação, e não mais um canal sincero de resolução de problemas.
Há ainda o fator emocional. Responder a tudo, o tempo todo, transforma o atendimento ao cliente em uma operação de contenção de danos. Profissionais de marketing e SAC lidam diariamente com a sensação de estarem sempre apagando incêndios — mesmo quando o serviço prestado foi correto. Essa tensão contínua esgota recursos internos, distorce prioridades e coloca o foco na crise, e não na construção de valor para o cliente.
Diante disso, um número crescente de marcas está repensando sua estratégia. Ignorar o Reclame Aqui — de forma consciente, planejada e com respaldo em canais próprios bem estruturados — tem se mostrado uma alternativa viável. Em vez de correr atrás da validação pública, essas empresas optam por fortalecer os pontos de contato direto, onde podem oferecer atenção real, sem o peso do julgamento coletivo e sem a perpetuação de conteúdos negativos nos buscadores.
Essa postura traz à tona uma questão crítica: se as empresas pararem de responder, o que sobra ao Reclame Aqui? A plataforma precisa da interação corporativa para manter sua relevância e autoridade nos mecanismos de busca. Sem isso, as reclamações se tornam monólogos e perdem o apelo. E sem engajamento, a estrutura do site começa a ruir. O que era um espaço de mediação passa a ser um arquivo estático de queixas que ninguém escuta — nem o Google.
Por isso, cabe aos empresários uma reflexão estratégica. Vale a pena continuar investindo energia, tempo e exposição em uma plataforma que transforma cada resposta em um novo problema? Ou chegou a hora de priorizar relacionamentos menos públicos e mais eficazes? Talvez, ao parar de responder, a empresa não apenas se proteja — mas enfraqueça um sistema que cresceu demais às custas do esforço alheio.
Autor: Mondchet Thonytom