A Prefeitura de São Paulo deve assumir a operação das linhas de ônibus das empresas Transwolff e UPBus, que atuam respectivamente nas zonas Sul e Leste da capital. Juntas, as duas companhias transportam cerca de 15 milhões de passageiros por mês.
A Justiça determinou a medida, mas a gestão municipal alega que ainda não recebeu a ordem judicial.
“Estamos no aguardo com relação à decisão judicial quanto as medidas que a SPTransporte precisa tomar”, disse secretário executivo de Transporte e Mobilidade Urbana, Gilmar Pereira Miranda.
A decisão ocorre após dirigentes das duas empresas serem alvos de uma operação do Ministério Público por suspeita de ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segundo Miranda, a SPTrans, estatal de transporte coletivo da capital, tem condições técnicas para dar conta do serviço sem prejuízo da população.
“A gente não vislumbra, neste momento, qualquer substituição de operador. Muito pelo contrário: a gente tem pessoal capacitado na SPTransporte, com expertise desde a época que já teve no passado necessidade de intervenção por má prestação”.
“O que a gente tem hoje é que a operação de todas as empresas, incluindo as duas citadas, estão conforme o contrato da prefeitura com eles. Se houver essa ordem judicial, a gente vai passar a gerir a operação, o RH e a manutenção dessas empresas.”
O secretário garantiu que os funcionários das empresas devem ser mantidos. E que eventuais mudanças de quadros ou no efetivo da frota serão feitas pontualmente.
“Será mantido o emprego de todos os operadores, os veículos são de ótima qualidade, dentro do cenário brasileiro e até sul-americano, então a gente vai manter a operação da cidade de SP.”
Ambas já tinham histórico de problemas, falhas na operação, além denúncias anteriores de ligação com o crime organizado.
Há duas semanas, passageiros quebraram equipamentos do Terminal Varginha II após atraso de mais de duas horas em um das linhas operadas pela Transwolff. Por conta dos atrasos e falhas, a SPTrans tirou seis linhas da empresa e aplicou multa.
Dirigentes investigados
A Justiça também estabeleceu o bloqueio de bens dos investigados, no valor máximo de quase R$ 600 milhões. Na casa de um deles, foram encontradas armas, dinheiros e joias.
Os dirigentes das empresas devem se afastar dos cargos e cinco deles, ligados a UPBus, terão de cumprir medidas medidas cautelares – entre elas a proibição de frequentar a empresa de se ausentar da cidade sem comunicação prévia à Justiça.
Lavagem de dinheiro e tráfico
Durante quase cinco anos de investigação, os promotores do grupo de combate ao crime organizado (Gaeco) reuniram indícios de que as empresas eram usadas pela facção criminosa para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outros crimes.
A suspeitas de que o crime organizado estava infiltrado no transporte público de São Paulo vêm desde os anos 1990, quando parte do sistema era operado por perueiros clandestinos, que faziam o trajeto entre os bairros mais afastados e os terminais de ônibus.
Em 2003, a prefeitura da capital transferiu a operação das linhas para a iniciativa privada. Parte do sistema ficou com as grandes empresas de ônibus e os itinerários mais curtos passaram a ser feitos por cooperativas. A maior delas era a Cooperpam, com sede na Zona Sul.
Ao longo dos anos, segundo o MP, os dirigentes dessa cooperativa montaram uma empresa e passaram a pressionar e até ameaçar os cooperados a transferir o controle da cooperativa para essa outra companhia, chamada de TW ou Transwolff.
Além disso, segundo os promotores, os diretores se apropriavam de parte da remuneração dos cooperados.
Dez anos depois, em 2013, quando o primeiro contrato de permissão da Prefeitura de SP chegou ao fim para todas as empresas, a Transwolff conseguiu assinar um contrato emergencial, que foi prorrogado durante anos, devido a um impasse no processo de concessão.
Só em 2019, depois que o TCM liberou a licitação, a prefeitura da capital assinou 32 contratos para a concessão das linhas de ônibus da cidade, por um prazo de 15 anos.
No caso da UPBus, o Ministério Público afirma que os diretores integram a cúpula da facção criminosa. Um dos donos da empresa era Anselmo Bicheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”.
Anselmo foi assassinado e degolado em dezembro de 2021. A cabeça dele foi deixada em uma praça do Tatuapé, também na Zona Leste.
Os promotores descobriram que outros chefes da facção criminosa fazem parte da direção da UPBus. Dois deles aparecem entre os sócios: Alexandre Salles Brito, chamado de Buiú, e Claudio Marcos de Almeida, o Jango. Eles já foram alvo de investigação por crimes graves como homicídios, tráfico de drogas, sequestros e roubo a bancos.