Na aguardada “Super Quarta” de setembro, tanto o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos quanto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Brasil anunciarão suas decisões sobre as taxas de juros. No entanto, os rumos traçados por essas duas potências econômicas seguem em direções opostas. Nos EUA, o Fed deve iniciar um ciclo de cortes nos juros, enquanto no Brasil o Copom se prepara para elevar a Selic, refletindo as diferentes dinâmicas econômicas enfrentadas por cada país.
Nos Estados Unidos, o cenário é de otimismo cauteloso. A expectativa é que o Fed reduza as taxas de juros, impulsionado pela percepção de que o processo de desinflação está avançando, mesmo que de forma mais lenta. A meta do banco central americano é equilibrar o crescimento econômico com a estabilidade do mercado de trabalho, sem causar uma recessão. De acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group, havia uma probabilidade de 66% de um corte de 0,50 ponto percentual, embora o debate interno sobre o tamanho dessa redução ainda persista.
No Brasil, a situação é mais desafiadora. O país enfrenta uma inflação persistente, alimentada por um mercado de trabalho aquecido e uma política fiscal mais frouxa, o que pressiona o Banco Central a aumentar a Selic. A confiança na autoridade monetária foi abalada após uma decisão dividida em maio, e agora o mercado prevê um aumento de 0,25 ponto percentual, com a possibilidade de novos aumentos nos próximos meses, caso o cenário econômico não melhore.
Especialistas como Gustavo Sung, da Suno Research, apontam que o Fed deve adotar uma postura mais conservadora, começando com cortes menores, de 0,25 ponto percentual. O Bank of America também reforça essa visão de “otimismo cauteloso”, sugerindo que o Fed tomará suas decisões baseadas em dados econômicos futuros. A mensagem central do Fed deve ser de vigilância, com possíveis cortes adicionais dependendo do comportamento da economia.
No Brasil, a previsão da XP Investimentos é de que a Selic suba para 12% até janeiro de 2024, com ajustes graduais. A inflação de serviços e a pressão cambial são alguns dos fatores que justificam essa abordagem mais agressiva. O Goldman Sachs, por sua vez, projeta uma Selic de 11,75% no início do ano que vem, enfatizando a importância de indicadores econômicos futuros para definir o ritmo de novas elevações.
A próxima decisão do Copom será crucial para reafirmar a credibilidade do Banco Central perante o mercado. A expectativa é que o comunicado oficial reforce o compromisso com o controle da inflação, mesmo que isso signifique a necessidade de apertos monetários mais intensos. Termos como “gradual” devem marcar a mensagem pós-reunião, sinalizando uma abordagem cuidadosa diante do cenário macroeconômico instável.
Enquanto isso, algumas instituições adotam uma visão diferente. O C6 Bank, por exemplo, argumenta que o enfraquecimento do dólar no cenário global pode aliviar as pressões sobre o real, permitindo que a Selic se estabilize em 10,5% até o final de 2024. No entanto, não está descartada a possibilidade de um novo ciclo de alta, caso as condições econômicas se deteriorem.
Em resumo, as decisões de política monetária tanto nos EUA quanto no Brasil refletem as distintas realidades enfrentadas por cada país. Enquanto o Fed busca evitar uma recessão, equilibrando crescimento e emprego, o Copom luta para controlar a inflação e manter a credibilidade do Banco Central. As próximas semanas serão determinantes para definir o rumo das taxas de juros em ambas as economias.